quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Entrefaces

Conversávamos em uma praça de alimentação
de um shopping quase falido.
Falávamos sobre nossas frustrações profissionais
família
e vontade de dredear os cabelos.
Inventei meia dúzia de mentiras
para beijá-la.
Ela também mentia
todos mentem
Todos!
Meu sorriso a incomodava:
“Seu sorriso te torna belo como um demônio!”

Sacou um lápis
pediu que eu ficasse imóvel.
Tomou um guardanapo
e começou a tracejar.
Suas mãos habilmente deslizavam sobre o papel
e seus lábios entreabriam enquanto desenhava.
Em poucos minutos terminou.
Sorriu ao fim.
Todas sorriem
Todas!
Entregou-me o guardanapo
ali jazia a minha face.

“Ei, tens razão. Talvez eu seja, mesmo, um demônio!”

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Sumo de um dia medíocre

Deitei de barriga pra baixo
E com a cabeça imersa no travesseiro
Não pude ver o sol nascer.
Na TV uma velha loira cozinhava,
“Eu cozinho melhor do que essa vendida!”
Pensei, ainda afogado na fronha.
Na rua um idiota qualquer gritou algo
Que não entendi.
Há dias em que entender é difícil.
Há dias que não deveriam existir...
Há dias em que não deveríamos existir.
Será que Deus, alguma vez, já se arrependeu de nós?
Será que já nos arrependemos de nós?
Haviam se passado horas e nada de ninguém,
Ou eu morri para o mundo,
Ou estou na lista dos lícitos que não convém.
Um beijo engasgado me trouxe remorso.
Poetas só se remoem por amor.
Isso é verdade!
Levantei-me, lavei o rosto.
O dia não sorriu pra mim!
A mulher ainda cozinhava.
- Ela cozinha muito melhor que eu! –
O mal do homem é se sentir eterno
E ser tão sensível, ao ponto de se desintegrar
Na primeira esquina

Pelo raio ultra-violeta do primeiro amor frustrado.

sábado, 14 de setembro de 2013

O tragar do relógio, e as falas dos cães que se arrependeram tarde de mais




Ao som de Minority, Bill Evans

A cada trago vertido
Sinto que o relógio da vida
Crava uma hora a menos.
Saboreio, face a face, a despedida.

E me engraço com moças desnudas
Sem temer o, egoísta, arrependimento.
Guardo o amor de mil putas putas,
Por saborear mil, inesquecíveis, momentos.

Guarde para si suas piegas piedades.
E não me rotule “coitado”, quando chegar o fim.
Sou um réprobo colecionador de maldades
Um infinito, que mesmo morto, não terá fim.

Meus curtos momentos foram vividos a mil,
Nada que entenda você, que vive contando dias
Num calendário que usurpa tudo de viril
Que existe na cripta que chamas de vida.

Passaste por aqui, e da sua sombra já me esqueci.
Desafio-lhe a entender o que sou e depois despir-se de mim.

As horas se vão num ritmo que já não acompanho,
Desculpa mas já vou viver um outro tanto ali,
Bem longe da face do seu espanto

Que vela, o desejo, de liberdade que encontras em mim.

sábado, 7 de setembro de 2013

A menina que tira fotos sem roupa


Para a maior poetisa baiana da história!

Cansei de imaginar-te comigo.
Cansei de imaginar-te.
Cansei de cansar.
Depois de tudo que vivemos, ainda lhe vejo sorrir.
Quando repousará sua cerne sobre meu peito, menina?
Quando me fará dissolver em poesia?
Suas roupas, sem importância, que se percam por aí.
Sua boca, em chamas, que se perca em mim.
Quero lhe contar um segredo,
Mas este, guardo pro dia em que lhe tomarei em meus braços...
Algo tão nosso, que lhe fará ser de novo a menina

Que outrora morou nos meus, primeiros, versos.

Ela gostava de gatos


Para a maior poetisa baiana da história!

Que merda! ela gosta de gatos.
Quem gosta de gatos? ela!
Deitada, lendo Veríssimo,
Ou a luz da lua com sua tatuagem pousada sobre o braço...
Alguém gosta mesmo de gatos?
Banhada por minhas mais sentimentais mentiras
E cultuada por meus instintos abstratos...
Como pode gostar de gatos?
Sou do seu interesse particular, mais profundo!
Mesmo que me esqueça, às vezes,
Sei que no âmago, ela espera que eu vá buscá-la.
Mas por que gatos?
O cheiro,
O perfume,
Os pelos,
Os cabelos,
As patas,
As taças...
...

Que se danem os gatos!

sábado, 31 de agosto de 2013

Um favor a um amigo

Um favor a um amigo

– E aê, cara? – disse Breno, assim que eu o atendi.
– O que você quer, menino? – eu disse em tom afetivo.
– Você não vai parar de me chamar de menino, Santiago? Que merda, eu me sinto com quinze anos! – retrucou.
– Meninos fazem birra e beicinho, assim como estás fazendo agora. – gargalhei. – Diz o que fez você me procurar... já sei: Mulher!
– Sim, mulher! Preciso de um favor.
– Favor? Lá vem merda!
– Fico lhe devendo uma...
– Não sei, não! Diga do que se trata que eu analiso e vejo se faço!
– Preciso que escreva uma coisa que aconteceu comigo.
– Por que eu? Você não é um poeta, oras? Escreva você!
– Tem que ser você, cara! Quebra esse galho pra mim!
– Tudo bem, conte-me o causo.
– Ok. Lá vai:
Conheci uma moça na praça há uns quatro meses. Uma dessas garotas lindas que vem com uma placa sobre a cabeça, com um letreiro de neon, em luzes vermelhas e azuis, dizendo: “Não se aproxime!”. Eu estava recitando uns versos e ela parou e ficou fitando-me com olhos negros e desejosos. Não me contive. Aproximei-me, e com todo meu arsenal de cafajestagem, investi inclinado a ganhar aquela boca rósea que me paralisava. Conversamos por horas. Trocamos telefones, mensagens, passávamos madrugadas conversando pela internet. Eu apostava todas as minhas fichas na expectativa de que uma hora eu seria dono de toda graça que emanava daquele ser de cabelos negros e longos. Fui criando jogadas, tiradas, me deixei envolver. Abandonei as outras presas para me dedicar inteiramente a ela. Víamos-nos quase sempre. Eu recitava em seu ouvido e dizia que queria seguir o tempo dela. E ela sempre virginal e amável, buscava a melhor forma de me deixar querendo um pouco mais a cada dia. Quando estávamos próximos, ela se insinuava e me enchia de desejo, mas quando eu me propunha a beijá-la tudo acabava. Por horas ela me deixou inflamado em um banco de praça acompanhado pela lua e por uma vontade indescritível de tocá-la. Os dias se passaram, passaram-se também uns meses e eu cada vez mais me via dependente daquele ser, que nessa altura já era pra mim um vício. Tudo começou como um jogo, mas depois eu caí de quatro pela caça. Meus poemas, as músicas que eu ouvia, os recitais, tudo havia um motivo e um endereço: a maldita moça!
– Cara, que merda de história. Você acha que eu tenho tempo pra escrever besteirinhas sobre amorzinho? Você sabe que eu sou totalmente o avesso desse seu romantismo esdrúxulo!
– Continue ouvindo, cara, por favor!
– Vá despejando... quando acabar me avise que darei descarga!
– Eu acabei envolvendo-a no meio artístico em que vivo. Levava-a as apresentações, festivais de música, ela caminhava livremente nos bastidores, conheceu todos os caras que me rodeavam, frequentava os bares onde os amantes da arte viam as noites se despedirem com brio; mesmo não a tendo de fato, eu queria sentir o efeito placebo de tê-la por perto. Foi então, que fechei a tampa da minha cripta. Ouvi uns comentários maldosos nos bastidores de um espetáculo em que eu recitava uns poemas. Até então, ninguém nunca havia trocado uma palavra comigo sobre ela, mas na noite da ultima apresentação uma menina que trabalhava de fotógrafa aproximou-se de mim e perguntou se eu namorava a dita cuja. Eu respondi que não e questionei o motivo da pergunta. Foi quando, ela disse que ouviu que eu estava sendo corno e que a menina estava se atracando com o violinista da orquestra nas minhas costas. Eu fiquei possesso. Não acreditando, despejei injurias e insultos sobre a pobre fotógrafa. Abandonei o espaço sem dar satisfações e não me apresentei naquela noite. Passaram alguns dias e aquela história me dilacerava interiormente. Sem comentar nada com a garota, fui procurar o violinista. Questionei-o sobre as fofocas e percebi que o desgraçado mentia quando afirmava negativamente as minhas indagações. Soltei-lhe uns dois socos de direita, um pegou de raspão no pescoço e o segundo acertou em cheio a fuça. O maldito cambaleou e caiu. Eu agarrei-o pelos cabelos, compridos, e aos berros tirei dele toda a verdade. E o pior, ele me contou que não foi o único. Fora ele, o cantor e o cara da iluminação também foram vítimas do veneno mortal da garota. Eu me desintegrei e virei grãos de nada. Passei o restante desse dia num bar, acompanhado por milhares de tragos alcoólicos e me indagando sobre a minha visível e latente idiotice. Era eu o caçador, era eu o apostador, eu tinha tudo nas mãos, mas por idiotice embolei minhas pernas no meu próprio cabelo e como Sansão deixei que uma Dalila roubasse toda força que existia em mim. Ela era uma jogadora. Escolheu devorar-me naquela praça quando me viu recitar. Ela jogava comigo por que queria me ver perder todas as fichas. E conseguiu. Eu me transformei em pó. Caí, como um anjo que traiu o Pai por burrice, e escolheu o comunismo utópico de Lúcifer sendo lançado eternamente no mar de enxofre. Santiago, eu quero que você escreva sobre um soldado que morreu por não atirar num outro soldado inimigo. Fui baleado por me apaixonar por quem estava em trincheira oposta.
– Sabe o que eu acho disso tudo?
– O que, camarada?
– Acho que você é um otário!
– Mas vou escrever isso!
– Obrigado!
– Não será um favor, pra isso você terá que me passar o telefone daquela sua prima loira!
– Você ta falando sério?
– Lógico, não sou abestado como você!
– Ok. Passo por mensagem.
– Certo, me dê uma noite que escrevo essa bobagem.
– Boa noite, Santiago.

– Boa noite, menino!

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Blu

Seus lábios são tão vermelhos, intensos e insanos;
Por dentro só há sabor.
Suas cores vibram em tonalidades exuberantes;
Por dentro, seus traços são rústicos transcritos a carvão.
E seus sons? Ah, ainda esta por vir voz mais bela e primaveril;
Por dentro, a coroa audível é da rainha rouca.

Não adianta apontar o caminho,
Quando por total desorientação,
Seus pés cunharam vida própria.

sábado, 10 de agosto de 2013

Taj Mahal


O que busco,

Teus olhos me entregam de bandeja.
O meu brilho,
Vem dos versos que teu perfume me dá.
Não acredite que sou tudo aquilo que teus olhos vêem,
Pois sou toda poesia que de você emana,
E tudo de sombrio que em você há.

sábado, 3 de agosto de 2013

Lembranças da Senhora Tavares


Ao som de Diana Krall, dedicado à senhora Guimarães Otis

– Por meados de outubro, de um ano não muito próximo, nem muito distante, a vida estava difícil pra todos. Sustento, no interior da Bahia, era artigo de luxo pra estudantes. Pode acreditar, camarada! Sobrevivíamos em cinco, em uma república de quarto/sala /cozinha, com uma hortinha que cultivávamos junto a um córrego que corria pertinho do nosso quintal. O aluguel beirava duzentos reais. Pra pagá-lo, uns de nós vendíamos ervas pra depressão, outros auxiliavam professores com assuntos sexuais não resolvidos; eu, como era gordo, e não tinha ervas, trabalhava com jardinagem na casa da senhora Tavares. – Pausa pro gole.
– A senhora Tavares era uma escritora frustrada, porém amparada por uma pensão gorda que seu marido, que falecera com uma alta patente militar, deixara. Nunca havia visto nada tão descomunal quanto esta mulher e a vida que ela levara! Morava em um mausoléu antigo ornado, interior e exteriormente, por plantas protuberantes e estranhas. Em seu quarto cultivava xaxins com samambaias africanas em tons de verde e amarelo, orquídeas transparentes e cactos, que, segundo ela, eram venenosos. Centralmente, em sua sala de recepção, havia uma palmeira imperial que beirava uns três metros de altura. Era tão grande que as folhas ficavam espremidas entre o teto e o caule da planta. Ter uma palmeira de três metros dentro de paredes que mediam um pouco mais parece insanidade, contudo, o que mais me assustava eram os bichos da casa. Touché era uma tartaruga-cinzeiro. A velha fumava cerca de dois maços de cigarro por dia, sempre estava com o fedorento artefato entre os dedos, e quando avistava a pequena Touché, limpava o excesso de cinza da ponta do cigarro sobre o casco do animal. Na verdade, sempre achei que aquilo era um cágado. Lembro-me que uma vez que fui dizer isso a ela, e ela, com aquelas pelancas faciais rabugentas, completou: “A merda do bicho é meu e eu chamo do jeito que eu quiser!”. – Outro trago. O copo secou.
– Além da pseudotartaruga-talvezcácagado-cinzeiro, a velhota tinha um gatinho com tetas gigantescas. Não sei o motivo, mas as tetas daquele animal eram volumosas e monstruosas. Por parecer muito com tetas de vaca eu o apelidei de Bichano-bovino-tetático. Ah, não posso esquecer-me da pior parte: ela também tinha um cachorro. Só que o cachorro era normal. Perante a tanta diversidade, pra não usar um termo mais escroto, o que motivava a velhaca a ter um animal normal? Como esperado, o cachorro ficava esquecido, abandonado, acho até que estava beirando a depressão. Com tantas atrações legais, o comum não era bem-vindo! Os tempos eram outros. Dinheiro era artigo de luxo. E vivíamos fábulas como se fossem reais. É, querido Bezerra, a vida nunca foi fácil para os escritores!

– Eu que sei, querido... eu que sei! Kiko, traz outra! – disse Bezerra, antes da conversa mudar de foco.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pecado Casual

Olhos negros
No cio.
Clamavam-me ardentemente,
E os meus correspondiam lascivos.
Era amor.
Isso é amor.
Puro desejo
Insanidade
Vontade
Momento.
Os lábios molhados
E enigmáticos
Compensaram a merda toda.
Um desejo a menos.
Um pecado a mais.
Culpado?
Sim.
Arrependido?

Jamais!

domingo, 28 de julho de 2013

Os meados da nossa relação, menina.

Ao som de BLUES ANTHEM (Jimmy Page)

Os embargos sociais ainda não conseguiram frustrar essa minha vontade de lhe tocar.
Já não me importo com o vocabulário, ou com o passado, que ainda bate em minha porta.
Quero os versos que seus beijos, presumo eu, renderão.
Quero seus sussurros gélidos e revitalizastes, mesmo que estes me custem à verdade.
Minha boca crua, na nudez dos teus lábios sibilará o meu querer e só.
Você é a vaidade profana que meu deus estrangeiro procura.
Todo o seu ócio, quero viver em movimento,
E sua lacuna preencherei com meus lamentos.
Seremos carne e carne.
Quero-te,

Simplesmente por que te querer me faz vivo! 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Amante solitário

A noite recaída, sobre minha fronte,
Revelada e quente convidava-me a valsar.
As vielas da pequena Cachoeiro permaneciam encantadas
Com tal magia peculiar, só existente por aqui.
-
Tudo ao meu redor estava propício a salientes libertinagens noturnas.
Os poetas já estavam com as canetas a punho
E os boêmios já tomavam os primeiros tragos.
O Eu solitário vagava; o Eu amante amava.
Assim como sempre fui: um amante do amor,
Sozinho, apesar das presenças.
-
Pela praça caminhava satisfeito, quando um samba arrebatou minha atenção.
Valsando convidado pela vida, transvie a rota, a sambar convidado pelo prazer.
-
Além da lua, uma morena descomunalmente bem projetada,
Banhava-me em devaneios sãos. Indaguei-me em pensamentos:
“Como pode existir tamanha perfeição?”
Sua silhueta esculpida em pequena dimensão por Antico,
Pele alva concebida pelas expressivas pinceladas de Leonardo,
Olhos verdes sínicos e infantis forjado no fogo de Ares e
Quadris que sambavam em compasso com as ondas do seu cabelo.
-
Mordi meus lábios em admiração,
Por descuido acabei sendo percebido.
Imagino que estava com semblante obstupefato
Ao presenciar um bailar divino
Acompanhado por tamanha engenhosidade corporal.
-
Um sorriso lascivo em minha direção se abriu,
Este era o convite esperado para nascer um “amor de ocasião”.
Aproximei-me e, com as mãos em sua cintura, “entrei na dança!”.
-
Como todo meu afinco tentei acompanhá-la,
Não logrei total êxito, contudo o sorriso permanecia, apesar dos deslizes.
Mudança de planos, sou melhor com as palavras do que com os pés.
-
_ Vamos tomar algo? _ Perguntei fitando-a.
_ Tudo bem! _ Ela respondeu lançando seus cabelos sobre mim ao se virar.
-
O papear não se prolongou ali.
Convidei-a pra um passeio a beira rio.
O Itapemirim refletia uma lua irreverente e cheia de si.
-
Minha mão, já alcançava a cintura da moça.
Contava-lhe sobre casos que presenciei nas margens de outro rio,
O Paraguassu.
Ela atenta, fingia interesse,
Eu macaco-velho, também fingi acreditar nas mentiras contada simultaneamente.
-
Encostados em um parapeito, virados para o rio, admirávamos a projeção lunar.
Ela esperava um beijo
E eu tentava formular uma estratégia pra prolongar a noite.
A manhã já dava indícios de sua tirana chegada.
Eu, a lua e a morena estávamos em uma sinuca de bico.
Cedi e a beijei.
Sabendo que nunca mais a veria e que tudo aquilo não passaria de um beijo, tentei:
_Venha comigo, vamos a minha casa!
Como já esperado ela inventou um conto e se foi.
Eu fiquei,
Assim como sempre fui: um amante do amor,

Sozinho, apesar das presenças.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Em virtude da tal idoneidade libertária

Neste jardim de complexidades que sou
Cabe a alguém regar os espinhos;
Cabe a alguém alimentar os famintos caninos;
Cabe a alguém orvalhar a vegetação quase insistente.

Nesse mar de mediocridade que sou
Cabem-me rótulos e etiquetas,
Crenças, descrenças e divindades órfãs de carinho.
Cabe a mim... sem mascaras ou esconderijos.

Pois o que sou provém do adubo alheio - também -
Assim como, as mediocridades latentes e infinitas
São incondicionalmente ligadas a mim.

Ser medíocre é tão natural quanto andar.
Reconhecer a mediocridade é um valor instinto.

 Liberdade é se assumir, apesar dos pesares!

Batendo o ponto pela ultima vez

Um relógio com badalos fúnebres toca sem perder ou retardar o compasso melódico.
Blém blém blém blém blém
E quem se deixa levar pelo transe do tempo, perde muito da vida ao som do badalar.
Blém blém blém blém blém
Por um curto momento, quando o ventou uivou,senti a doce sensação de liberdade.
Blém blém blém blém blém
Era, apenas, mais um abandono. O vento chora quando alguém de mim se vai!
Blém blém blém blém blém
As luas já não são tão resplandecentes quanto no verão passado.
Blém blém blém blém blém
Isso deve ser um sinal desta sina sinistra. Meu fim?
Blém blém blém blém blém
Já não suporto mais sofrer por sofrer e só!
Blém blém blém blém blém
A angústia badala ditando meu querer...
Blém blém blém blém blém
Não é egoísmo, é amor próprio!
Blém blém blém blém blém
Sei que não entenderiam...
Blém blém blém blém blém
Minhas palavras perderam
Blém blém blém blém blém
O sentido!
Blém blém blém blém blém
Blém blém blém blém
Blém blém blém
Blém blém

Blém 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Uma folha desnorteada pela primavera


 Eram milhões de pessoas ao redor da pobre (de espírito) moça. Todas atônitas e rápidas passavam de um lado para o outro sem que vissem a menina. Seus olhos grandes e marejados de espanto revelavam um alguém perdido, desencontrado de si e deixado a mercê. Eu via tudo de minha janela. Eu conhecia a moça. Eu a deixei lá!
Lembro-me que quando ela chegou a minha vida, estava daquela mesma forma, perdida. E eu abri as portas do meu peito. Deixei que ela e todos os seus demônios interiores e exteriores entrassem. Só que sou casa de passagem, o preço a se pagar dentro de mim é alto e ela não teria “cacife” para tal. Muitas coisas me faltam, dentre elas o apego afetivo... ah, e posso ser bom com mentiras.
Voltando ao assunto da pobre menina; ouvi dizer que ela está ali parada (com aquela cara de cego no tiroteio) a mais de meses (desde que a despejei de mim). Ela não tem comido, não tem dormido e nem lido. Valente essa menina! Recordo-me de suas ultimas palavras: “Eu voltarei, provarei que sou boa o bastante para ficar.” Ingenuidade! Ela não voltará. Mas confesso que o fato dela estar lá fora, lutando contra seus medos e enfrentando os seus pesadelos me comove. Mas comoção não é o suficiente, o valor a ser pago é maior, muito maior do que ela é.  
O mundo é frio e seco (apesar da agradável temperatura que faz detrás dessas janelas no topo deste edifício.) e não acredito que ela suporte ficar muito tempo ali parada. Em breve ela se cansa ou deixa de suportar a baixa temperatura! Logo o que ela acredita ser eterno passa! Sem tardar ela aprenderá que ao invés de me esperar, ela deve procurar o “eu” (dela) perdido no passado!

Não adianta esperar por algo concreto se és mera abstração!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Turvo

Mastigue tudo que lhe desintegrará de tesão.
Faça versos curtos
E desconexos!
Jogue sua moral no vento para que ela volte como brisa e refresque seu rosto.
Chore,
Um choro que liberte a alma destronada.
Se não consegue enviar seu espírito pro céu
Ateu-se.
Até
Encontramos um jeito de lhe salvar
Do turvo.
Turvo como sangue nos olhos.
Vermelhidão
E cabeça aberta
São característica de jovens que se drogam.
Não seja
Não seje
“Ta serto!” no muro se escreveu
Ta certo?
Não, “Ta serto!”
Fuja de todos os que lhe magoam
Fuja de você
,Até.
Ateu-se do que você acha certo
Do que se fez sólido.
Desconstrua
Desmotive o herdado
Passe a diante
O hábito de não influenciar escolhas.
Deixe que pensem,
Quem pensa demora mais pra morrer,
Quando este não se mata.
Seja
Seje
Algo menos turvo
Do que você mesmo! 

sábado, 18 de maio de 2013

Explicações


Deve existir explicação para o amor...

Quando andei perdido
Eu via sua luz
Eu via o seu farol
Mas não interpretava o apontamento.

Quando andei desiludido
Eu sentia sua fragrância,
Eu gostava,
Mas não a tinha como minha.

Quando me entreguei ao incerto
Eu percebia sua certeza.
Sua certeira seta de apontamento.
Pra mim eras, uma certa, utopia.

Quando eu cansei de viver
Percebi sua vida,
E como quem não tem a perder
Sem medos
E métricas
E métodos
E estrofes
E versos
E mentiras
Vivi!
Em você,
Por você...
Hoje, me abasteço
De nós
E por nós.

O amor se explica quando você sorri. 

sábado, 11 de maio de 2013

Encaixe




Parece que se encaixa...

Os seus acertos e os meus defeitos.
A sua clave com os meus acordes.
Os seus lencinhos com minhas lágrimas.
A sua vida com a minha fábula.
A suas asas com o meu ventar.
O seu sorrir com o meu chorar.
A sua luz com a minha sombra.
O meu joelho com a sua reza.
A minha vida com a sua essência.
O meu suicídio em sua ausência.
O seu cantar e a minha poesia.
O meu desabrigo e a sua moradia.

Parece que se encaixa:

O meu sonhar e o seu acordar.
O meu agir e o seu esperar.
Meu movimento e sua paciência.
As coisas boas e as demências.
O tempo parado ao lado teu.
As noites mal dormidas ao lado meu.
Os sonhos vividos com olhos fechados.
A vida de antes... os cacos.
O meu feio e o seu bonito.
Os meus gerúndios e os seus infinitivos.
O perfume novo que você me deu.
A cor antiga que você perdeu.
O mar de amar na qual os pés molhamos.
O que em nós surge, quando nos olhamos.
Parece, até, que a gente se encaixa!

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Entre o altar e a cruz


Três freiras obesas
Ajoelhadas
Voltam-se ao altar a rezar.
De onde olhar
Perceberás que elas
Parecem iguais.
Velhas
Gordas
De joelho
A rezar.
Mas o que todos
Não sabem
É que cada uma
Esconde um pecado
Terrivelmente assombroso.
A primeira é gulosa
Come por prazer
E se empanzina até vomitar.
Esta reza pedindo controle.
A que está ao meio
É sádica.
Excita-se em ver crucificações,
Chicoteamentos,
Torturas,
Talvez este seja o maior motivo
De ela ter se fadado a ser carmelita.
Esta outrora, reza pedindo
Libertação (mesmo adorando estar presa).
A ultima é mentirosa
Vive em uma realidade criada.
Nas noites de refeições coletivas
Diverte as outras irmãs
Com histórias mirabolantes
De seu passado de “moleca”.
Esta, por sua vez, reza para que nunca
Descubram nada do seu passado verídico.
O mais intrigante é que nos dias de confissão
Todas escondem suas transgressões.
Talvez, essa seja a maior característica de um humano
Querer a abstenção sem pagar o preço.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Frações de tempo


Esse dia não passa!
E esses pensamentos permanecem
juntamente com a solidão.

Eu contos as areias que descem pela cintura do tempo
e desembocam em um mar de possibilidades perdidas.

Sinto falta da ausência,
e a presença me assombra.
Tenho fé no que morreu
e medo do que está vivo.

Queria, de coração, um grande amor,
mas o que cresce realmente em mim
é a angústia.
O amor, talvez, não seja pra mim.

Esse dia não passa,
pois deve ser engraçado me ver morrer aos poucos.

sábado, 4 de maio de 2013

Como em um sonho


Eu permanecia em minha cama deitado
Enquanto meus pensamentos
Juntamente com meus sentimentos
Rodeavam-na em abstrata observação.
Neste momento tomado estava
De um visível e real encanto.
O que será isso meu Deus...
Desejo, curiosidade, idolatria?
Antes de concluir o que pensava
A vi entrando pela porta
E em salto me pus de pé a encará-la.
Ela sorriu (Ah, como eu gosto daquele sorriso!)
E paralisado fiquei diante de tal divindade.
Pude perceber que seus cabelos soltos
Alcançavam a cintura. (Ah, como eu gosto daqueles cabelos!)
O silêncio tomava o espaço que nos envolvia
E antes que eu ousasse quebrá-lo
Ela beijou-me.
Seus lábios me tocaram causando frisson
Doçura e desejo
Volúpia e sinceridade.
Senti nossas almas entrelaçadas
Assim como nossas línguas.
Partindo do diafragma ascendeu uma fagulha
Queimando um pavio rumo ao coração
Que explodiu incendiando meu corpo
Como chama incessante de paixão.
Meus olhos brilharam como um farol
Anunciando aos perdidos, que aquela boca era minha guia.


Tudo seria perfeito, se não fosse uma luz invasora
Que adentrando minha janela me despertou
Do melhor e mais saboroso sonho que tive...
Sonho de amor!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Caso Perdido

Será você um caso perdido?
Um caso perdido de sorriso perfeito
De perfume ao vento
De desejo sem sentimento?

Será você um caso perdido
De amor sem amar
De medo de mar,
medo de amar...
De água sem sal
De mar sem profundidade?

Será que eu lhe perdi, caso?
Caso “sim”, perdoe-me!
Caso “não”...
Não se vá!
Pois ainda há muita água
A rolar
No mar
(profundo)
Do meu amar. 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Gêmeos


Sua presença me completa. E essa completude é um álamo frente ao tom grisalho que o mundo tenta nos imprimir. Somos cores vivas em meio a tanto cinza, preto e branco. Nossas cores com vida própria valsam melodias entoadas pela terra, mãe de nós todos. A terra blinda nossa amizade. Quando nossos sorrisos se confrontam eu me encontro. Você sou eu fêmea! Sua forma de falar, agir e amar é tão EU. Somos um signo. Somos gêmeos. Somos brilho de estrela. Somos lunáticos nesse mundo de grãos!
Antes de sermos grandes amigos, éramos amigos pequenininhos. E lembro que vivíamos inconformados e tristonhos neste mundo são que nos venderam. Mundo este que era tão sem graça, mas nossos corações eram tão grandes e hiperativos que tivemos que crescer... tivemos que nos tornar grandões. Hoje, como bons gêmeos, somos amigos. Grandes amigos! Os maiores amigos que o mundinho lá fora já viu!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Anjo do Caos


Surjo nos teus sonhos no meio da tua noite,
Invado sua mente e a reviro de ponta cabeça.
Sou assim mesmo, por onde passo deixo rastros,
Vestígios, cicatrizes...
Impossível tocar-me sem se queimar!

Gosto de ser o obstáculo em suas decisões,
De te deixar confuso, te fazer esquecer nomes,
Fazer você pensar em mim,
Principalmente quando não for da sua vontade!

Foi você quem me fez o convite, lembra?
Você me deixou entrar.
E, pra ser sincera, é tarde demais para tentar me tirar de sua vida.
Estou acampando em sua mente.
Fiz de manipular seus pensamentos um vício.
Comprazo-me em aparecer sem avisar em tempos de calmaria
E verter em caos a sua vida, que até antes de mim era, tão simples.
E quando tudo estiver em total desordem...  Desaparecerei!
Como se nada tivesse acontecido.

Então você se reorganizará. Colocará os livros de poesia na estante,
Lavará e passará os lençóis brancos, tirará minha foto do porta-retrato...
Mas quando você menos esperar (Quando tudo estiver em total sincronia),
Eis que surjo novamente, sem avisar, numa ensolarada tarde de domingo
Como uma surpresa, entre meu sorriso, embrulhada e ornada com fitas vermelhas.

E mais uma vez te surpreenderei, Te farei lembrar do que nunca foi esquecido.
Fitarei seu rosto enquanto entro pela porta da frente,
Verei em seus olhos o medo que lhe acomete - você sabe do que sou capaz-.
E quando suas silentes indagações confusas quiserem externar-se,
Com meus olhos luzentes como raios solares, eu direi:
adoro ser assustadora quando chego em sua cabeça de repente.

Uma parceria entre: Breno Callegari Freitas e Karina Benevide
Conheça mais de Karina Benevides em: http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=116266

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Oh, céus!




Ela aproximou-se e eu a senti.
Ela tem cheiro de sorriso!
Percebi que algo diferente se deu em mim,
Meu Deus, como posso ser tão infantil?
Minhas bochechas enrubesceram e meus pés formigaram...
Sintomas, ridículos, de paixão!
Ela ficou em pé na minha frente a sorrir,
E como um galante cavalheiro sedutor eu escondi o meu medo.
Medo de não ser o suficiente,
Dela não gostar de halls vermelha que trago,
De dizer besteira,
De não ser inteligente o bastante,
De não estar cheiroso o bastante,
Da chuva não ser romântica o bastante,
De que meus olhos não brilhem o bastante.
Senti medo de desapontar.
Sem meias palavras ela me abraçou.
Ah, aquele abraço inesperado que amassa a sobriedade da consciência acelerando o coração...
_ Por que seu coração está acelerado? _ Ela perguntou.
_ Deve ser sua presença! _ Meu sorriso respondeu.
Ela novamente sorriu
E meu mundo, naquele momento, foi feliz,
Pois sou um céu
E o sorriso que ela me trouxe
Fez-se o brilho necessário
Que possibilitou, a mim,
Ser um céu estrelado!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Versos de malamar




Ela ia amar e levava consigo o livro das regras.
No meio de tantos “não pode”
Eu abrochei recitando meias poesias de verdades relativas.
Ela me apresentou as normas
E sacou sua arma,
Eu enredado por seus olhos ajoelhei e ofereci flores e espinhos.
Ela quis
E depois não quis.
Foi embora
Pra voltar amanhã
E nunca mais a vi...
Exceto um dia desses quando olhei pra dentro de mim.

domingo, 21 de abril de 2013

Teus olhos, meu lar!




O céu nublado de outono
Não costuma, sorrir estrelado.
O frio da estação
Remete-nos a uma cinzenta tristeza.
Fui poeta de outonos!
Trazia comigo um sorriso roto,
Abraços desinteressados e soltos,
Beijos loucos e poucos
E um coração fragmentado em grãos.

Queria poder amar.
Mas o amor não me era permitido.
Tentei amar as estrelas
Entretanto o outono nublado
Divertia-se em escondê-las,
Para saborear a minha desilusão.

Foi quando em uma das noites tristes e
Silentes, regadas à poesia
A encontrei (minha moça).
E sem permissão prévia
Mergulhei em seus negros olhos
Deixando-me imergir
Em tão profunda alma/amor.


Nadei em águas profundas
E quanto mais fundo mergulhei,
Mais fôlego adquiri.

Esses olhos/mundo
São fontes de vida.
Rejuvenesci. Ascendi
Como um enxame de vagalumes
Vagando por uma esquina escura da vida.

- Às margens deste mar do olhar
Pude perceber que em você
Não existia outono. -

O céu estrelado
Convidativo me tirou pra valsar.
Sem perceber minhas asas voei
A dançar
A sorrir
A viver
A sentir
A amar...
Ah, como eu amo seu olhar.
Eu tenho vida no seu olhar!

Cansado de tanto valsar,
Voar e amar
Sentei-me em uma das margens de sua alma (mar)
E comecei a escrever essas palavras
Com o intuito de avisar
Que agora sou morador dos olhos teus.
Perdi-me nesta imensidão.
E por favor, não tente me resgatar!

Convulsa poética que me pariu


Eu sempre quis ser um poeta. Só não sabia que os outonos eram tão gelados atrás desta folha escrita e lida por mim.
Comecei a escrever por um acaso doloroso. Sofrimento amoroso! Meu coração foi lançado como um bibelô de porcelana em uma parede rústica de tijolos. Era tão frágil, mas foi despedaçado. Eu vi meus cacos voando sem direção. Não havia perspectiva de conserto. O estrago era nítido. Viam-se cacos e sangue por todo lado. Quase um quadro de Portinari.
O engraçado é que quando sofro, busco aparentar o inverso. Sorrisos e alegorias carnavalescas enfeitam minha mascara. Ou melhor, MASCARAS, pois enquanto vago pelo sofrimento sou pluralmente uma construção de felicidade (inexistente). Odeio dançar, mas na fossa eu requebro igual a um pardal convulso em seu ultimo minuto de vida; nunca fui de beber, entretanto quando estou sendo sufocado pelo frio outonal, bebo com a mesma voracidade de um moribundo em estado terminal frente a um xarope que curará suas mazelas. Sei que é triste essa minha necessidade de externar o avesso do que realmente acontece. E assim, buscando apresentar pro mundo os meus cacos, comecei a escrever. Queria gritar minhas paixões (mesmo que platônicas), expor minhas dores, mostrar o quanto eu posso ser um gigante dilacerado.
‘Eu sempre quis ser um poeta’, no entanto achei que poetas não sofriam; que solidão não existia pra um poeta... pensei que poetas viviam de amor. - De certo modo o é, mas é do amor dos outros. - Poucos poetas vivem do amor próprio. Eu não tenho o dom do amor próprio! - Talvez até tenha, mas não o suficiente pra transformá-lo em poesia. - Por isso, antes de me julgar feliz (ou a qualquer outro poeta), saiba que nem toda folha que a primavera dispensa se vai por conta própria. Meu sorriso é uma fábula que contei e você acreditou. Meu amor é uma crônica inventada por um deus onisciente, onipotente e ausente. Meu pai. Sou o semideus do desalento.
Esse, com certeza, é mais um texto que quer bradar algo que nunca sairia da minha boca.  

Solidão é sina



Eu tenho a sina de escrever pelas madrugas. E essa madrugada está especialmente fria. Gosto quando a natureza blinda minha escrita com o frio noturno! Hoje as nuvens esconderam as estrelas. Isso me remete ao sentimento de solidão. Na verdade, quando não temos a sensação de estarmos sozinhos? Nossos conceitos são todos baseados no egoísmo. E Egoísmo é solidão. Eu ouvi alguém dizendo algo sobre amor incondicional. Refleti e cheguei à conclusão que o amor também é egoísmo e, por conseguinte é solidão. Ninguém ama apenas pelo fato de querer o bem alheio. Na verdade o amor nasce de uma idealização. Da busca pela vida perfeita. A busca é amor próprio, e amor próprio é egoísmo e egoísmo é solidão.
Eu busco as estrelas que a noite nublada me tomou. Poderia me contentar com o friozinho, mas sou egoísta ao ponto de amar. E por conseqüência estou só.
Mais uma noite em solidão!

Falta de costume



Quero pedir...
mesmo que ninguém me ouça,
Ou que não respondam,
Mesmo que a ferida doa
Ou a falta, ainda mais, falte.
Mesmo que a inconstância fale mais alto
E o silêncio seja a frustrante resposta
E que daqui a mil anos eu morra
Sem que nunca tenha vivido, realmente, longe de ti.

Quero pedir
Que a fratura
Não seja exposta
Que, até, falte cor
som
amor
frisson
E vida.
Falte o que tiver que faltar...
Só não me deixe sofrer
Por faltar você.

Fim do mundo


Aos que sorriram momentaneamente
Sentados em suas montanhas de insegurança
Esperando que o poente sol
Findasse suas frustrações vitais e humanas...

Aos solteiros de esperança
Trancafiados em sua falta de fé
Que zombaram do fim
Clamando que este calasse a santa cientificidade...

Aos políticos limpos
Que sujaram-se com a moeda do barqueiro do inferno
E que venderam suas almas para anjos que ainda voam.
Estes que borraram suas maquiagens amedrontados com o possível eclipse...

Aos puros e santos
Que acreditaram em Deus acima de qualquer vaidade terrena
E que ergueram suas mãos aos céus
Clamando que o todo poderoso mostrasse, mais uma vez, seu poder...

Aos famintos que não tiveram tempo de reagir...
Aos analfabetos de emoção que travaram no momento...
Aos sepultados amorosamente que ficaram a idealizar um oásis em pleno Saara...

A mim que fui um pouco de tudo
E um tudo de nada
Mas que também esperei
Ansiosamente...
:
O mundo é uma bosta,
E nem pra acabar ele serve!
Por isso, esperemos todos
Fitados neste mesmo canal
O próximo fio de esperança
Que será divulgado no jornal principal da noite.



Aos utópicos


Tudo que se quer é visualizar o intangível
Não se precisa possuir
Muito menos gozar de sua plenitude
O que realmente se precisa é tocar o invisível.

O seu sorriso em mim


Ah, como é delicioso pra mim
Ver o seu sorriso nascente
Se levantar no cantinho da boca
E atravessar o seu rosto iluminando
As trevas que este mundo adquiriu
                  [no passar dos tempos.
Este sorriso que pra mim se fez o marco
Entre o meu passado e o nosso futuro!
Como pode alguém não se afogar neste
                                                   [mar?
Como pode brilhar tão cintilante, posto
                              [Que não é estrela?
Talvez este tenha sido a grande inspiração,
O grande motivo, a grande paixão
De um criador poeta, que lhe fez
Por amor a beleza... Por amor a mim.
Se teu sorriso foste meu, assim como
                                           [Sou teu,
Recitaria em voz alta um poema que
Cantasse o quão perfeito é viver
Tendo a perfeição (que és) como prenda.