Eu sempre quis ser um poeta. Só não sabia que os outonos
eram tão gelados atrás desta folha escrita e lida por mim.
Comecei a escrever por um acaso doloroso. Sofrimento amoroso!
Meu coração foi lançado como um bibelô de porcelana em uma parede rústica de tijolos.
Era tão frágil, mas foi despedaçado. Eu vi meus cacos voando sem direção. Não
havia perspectiva de conserto. O estrago era nítido. Viam-se cacos e sangue por
todo lado. Quase um quadro de Portinari.
O engraçado é que quando sofro, busco aparentar o inverso.
Sorrisos e alegorias carnavalescas enfeitam minha mascara. Ou melhor, MASCARAS,
pois enquanto vago pelo sofrimento sou pluralmente uma construção de felicidade
(inexistente). Odeio dançar, mas na fossa eu requebro igual a um pardal
convulso em seu ultimo minuto de vida; nunca fui de beber, entretanto quando estou
sendo sufocado pelo frio outonal, bebo com a mesma voracidade de um moribundo
em estado terminal frente a um xarope que curará suas mazelas. Sei que é triste
essa minha necessidade de externar o avesso do que realmente acontece. E assim,
buscando apresentar pro mundo os meus cacos, comecei a escrever. Queria gritar
minhas paixões (mesmo que platônicas), expor minhas dores, mostrar o quanto eu
posso ser um gigante dilacerado.
‘Eu sempre quis ser um poeta’, no entanto achei que poetas
não sofriam; que solidão não existia pra um poeta... pensei que poetas viviam de
amor. - De certo modo o é, mas é do amor dos outros. - Poucos poetas vivem do
amor próprio. Eu não tenho o dom do amor próprio! - Talvez até tenha, mas não o
suficiente pra transformá-lo em poesia. - Por isso, antes de me julgar feliz
(ou a qualquer outro poeta), saiba que nem toda folha que a primavera dispensa
se vai por conta própria. Meu sorriso é uma fábula que contei e você acreditou.
Meu amor é uma crônica inventada por um deus onisciente, onipotente e ausente.
Meu pai. Sou o semideus do desalento.
Esse, com certeza, é mais um texto que quer bradar algo que
nunca sairia da minha boca.
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