segunda-feira, 22 de julho de 2013

Amante solitário

A noite recaída, sobre minha fronte,
Revelada e quente convidava-me a valsar.
As vielas da pequena Cachoeiro permaneciam encantadas
Com tal magia peculiar, só existente por aqui.
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Tudo ao meu redor estava propício a salientes libertinagens noturnas.
Os poetas já estavam com as canetas a punho
E os boêmios já tomavam os primeiros tragos.
O Eu solitário vagava; o Eu amante amava.
Assim como sempre fui: um amante do amor,
Sozinho, apesar das presenças.
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Pela praça caminhava satisfeito, quando um samba arrebatou minha atenção.
Valsando convidado pela vida, transvie a rota, a sambar convidado pelo prazer.
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Além da lua, uma morena descomunalmente bem projetada,
Banhava-me em devaneios sãos. Indaguei-me em pensamentos:
“Como pode existir tamanha perfeição?”
Sua silhueta esculpida em pequena dimensão por Antico,
Pele alva concebida pelas expressivas pinceladas de Leonardo,
Olhos verdes sínicos e infantis forjado no fogo de Ares e
Quadris que sambavam em compasso com as ondas do seu cabelo.
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Mordi meus lábios em admiração,
Por descuido acabei sendo percebido.
Imagino que estava com semblante obstupefato
Ao presenciar um bailar divino
Acompanhado por tamanha engenhosidade corporal.
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Um sorriso lascivo em minha direção se abriu,
Este era o convite esperado para nascer um “amor de ocasião”.
Aproximei-me e, com as mãos em sua cintura, “entrei na dança!”.
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Como todo meu afinco tentei acompanhá-la,
Não logrei total êxito, contudo o sorriso permanecia, apesar dos deslizes.
Mudança de planos, sou melhor com as palavras do que com os pés.
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_ Vamos tomar algo? _ Perguntei fitando-a.
_ Tudo bem! _ Ela respondeu lançando seus cabelos sobre mim ao se virar.
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O papear não se prolongou ali.
Convidei-a pra um passeio a beira rio.
O Itapemirim refletia uma lua irreverente e cheia de si.
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Minha mão, já alcançava a cintura da moça.
Contava-lhe sobre casos que presenciei nas margens de outro rio,
O Paraguassu.
Ela atenta, fingia interesse,
Eu macaco-velho, também fingi acreditar nas mentiras contada simultaneamente.
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Encostados em um parapeito, virados para o rio, admirávamos a projeção lunar.
Ela esperava um beijo
E eu tentava formular uma estratégia pra prolongar a noite.
A manhã já dava indícios de sua tirana chegada.
Eu, a lua e a morena estávamos em uma sinuca de bico.
Cedi e a beijei.
Sabendo que nunca mais a veria e que tudo aquilo não passaria de um beijo, tentei:
_Venha comigo, vamos a minha casa!
Como já esperado ela inventou um conto e se foi.
Eu fiquei,
Assim como sempre fui: um amante do amor,

Sozinho, apesar das presenças.

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