terça-feira, 27 de março de 2012

Reflexo urbano

Da janela daquele arranha céu eu via a vida urbana.
Espelhos que serviam como janelas,
E Janelas que serviam como espelhos...

Velhos que davam conselhos a jovens,
E jovens que apenas ouviam velhos falando...
Pra que conselhos?

Nas bancas expostos havia livros de poesia surrealista,
Lógico que não era para os velhos (velhos buscam salvação)
E também não era para os jovens! (jovens buscam excitação).
E tão pouco para mim... (Não sou chegado a vales obscuros de medo onde caminha a dor.)

Os velhos, os jovens e os poemas eram a cidade.
A cidade era o arranha céu que também era um poema surrealista.
E lá da janela, que era espelhada, percebi que o reflexo da cidade ali manifestado era o meu!

terça-feira, 20 de março de 2012

Presságio II

Formigas hiperativas e ouriçadas traçando caminhos tortuosos no chão é sinal de chuva.
Velhinhas no ponto de ônibus com guarda-chuvas... significa que além das formiguinhas estarem certas você chegou na hora certa, lá vem o ônibus. Afinal velhas senhoras sempre sabem os horários do maldito meio de transporte dos pobres urbanos.
O sino da igreja badala anunciando que é chagada a hora da “ave maria”. As velhinhas se benzem beatamente... as formigas se recolhem aos seus buraquinhos de insignificância, os guarda-chuvas se abrem, o ônibus chega e a chuva desce brincante escorregando pelo chão e transformando em lama o caminho deixado pelas formigas... agora é lama o que outrora foi presságio.

Presságio

Formigas hiperativas e ouriçadas traçando caminhos tortuosos no chão é sinal de chuva.
Velhinhas no ponto de ônibus com guarda-chuvas... significa que além das formiguinhas estarem certas você chegou na hora certa, lá vem o ônibus. Afinal velhas senhoras sempre sabem os horários do maldito meio de transporte dos pobres urbanos.
Agora, aquele sorriso afetuoso com cheiro de abraço e gosto de beijo é presságio de amor... e que a nós venha o amor!

sábado, 17 de março de 2012

Valores

A vida de uma formiga dura de seis a dez semanas. Quanto vale a vida?
Acho hilário quando percebo alguém “endeusando” a vida. Gente que ostenta aquele discurso de: “Viva hoje como se fosse o ultimo dia.”, “Faça exercícios, não quer encurtar o maior bem: a vida!”, “blá blá blá”... ela é verdadeiramente importante quando se trata da NOSSA VIDA! Ou você nunca achou graça de uma morte bizarra? Nunca sentiu satisfação na morte de alguém que, para você, merecia o fim? Sim... essas coisas acontecem constantemente. Sua vida tem valor... para você. Essa é a resposta do questionamento a cima.
A morte é soberana!
Nada mais soberano que a morte. Afinal tudo gira em torno dela... inclusive a miserável VIDA. A morte nos prende ao medo, a crença, a sentença a decisão. A morte vem sorrateira e quando percebe-se a indesejada presença já é tarde! Anexado à morte estão às lágrimas, dores, ardores e amores. A morte pode tudo. A morte é tudo.
Até Deus está ligado a ela... Jesus teve que morrer para salvar os humanos. E afinal, sejamos francos o medo da morte intensifica a incógnita da fé!
Se os “endeusadores” da vida soubesses o valor da morte... não perderiam seu precioso tempo morrendo de forma categórica. Viva sua vida, do jeito que “der na telha” (expressão velha, mas deu na telha) não se preocupe com a morte ela é inevitável... SOBERANA! Afinal se a vida valesse tanto ela não terminaria em morte. Quanto vale a vida?
O valor da vida é a morte!

segunda-feira, 12 de março de 2012

Poeta da letra feia


Sei matar e roubar.
Sei amar, desamar e malamar!
Sei mentir.
Minto sobre o mundo,
Sobre mim e
Sobre tudo.
Às vezes sou asqueroso
E com palavras benevolentes cuspo e mordo.
Tosco!
Morno!
Romântico
Moço.
Trindade e
Maldade.
Saudade...
Ê “Cumpadi”...
Sou sem ser...
Não sou.
Vou!
Vou à mercê
De palavras que nos tragam um amanhecer...
Alvorecer,
Renascer,
Entardecer...
Ser!
Sou.
Poeta...
Poeta da letra feia.

sábado, 10 de março de 2012

Condição de mulher (Conto)


Despedi-me dos meus colegas de trabalho, andei em direção ao meu carro... “NOSSA! Que loira linda!”, esse pensamento foi expresso por minha boca em palavras. Momento insano! Não sou um desses boçais que expõem as mulheres “recitando” “suaves” obscenidades.
De repente, percebi que a loira parou a uns quatro metros de mim e estava a encarar-me. Minha face que estava rubra derreteu-se de vergonha. O pior foi quando a percebi se aproximar. Rapidamente desativei o alarme, abria a porta e quando eu fui virar a chave... “Cunha!?” Ela sabia meu nome. Na hora meu coração veio à boca, meus olhos estatelaram-se e minha face derretida e rubra parecia esquentar. Como sabe meu nome? Macumba? Bruxaria? Uma dessas orações gritadas?
Como, eu não sei. Mas reconfigurei meu rosto, escondi
alguns dos muitos dos sentimentos, que me invadiram e cirandavam em meu peito, e a respondi: “Pois não!?”... “Não está reconhecendo-me? Sou eu, o José da escola secundária, jogávamos xadrez juntos...” Ele... ela continuou falando, mas não lembro o quê, pois meus pensamentos pararam. Quer dizer que José é a loira gostosa que me encantou há pouco!? Lembro-me de ter voltado meu olhar ao seu rosto novamente, ela falava sobre uma cirurgia, mas não prestei atenção. Gente, não pode ser o José! Ele virou mulher e uma muito linda! Logo entendi sua condição de existência... ele era uma mulher! E eu a aceitava. A conversa não teve futuro, pois eu ainda estava em estado de choque. Nós nos despedimos e ela se foi.
Virei à chave e prossegui para casa pensando. Contudo o foco do pensamento mudara. O que eu não entendi... e ainda não entendo é a condição de mulher da Mulher. Há pouco estive com um homem que virou mulher, mas nunca estive com uma mulher que é totalmente aceita como mulher.
Mulheres são: MÃES, companheiras [seja através de uma amizade ou relacionamento amoroso], amantes [e fazem isso muito bem, por sinal], profissionais, enfermeiras [muitas vezes sem saber exercer a profissão, usam seu instinto afetivo], etc. ... Elas são tudo isso, menos mulheres! O tempo passou e elas começaram a ocupar o espaço que outrora era destinado aos homens, mas isso não é suficiente!
A questão estava posta, mas onde se encontra o problema?
Em mim... em nós! Ainda há quem as submeta, muitas vezes inconscientemente, a um machismo dominador... quem disse que elas não sabem dirigir, que o homem é a cabeça do relacionamento, ou que elas possuem inteligência inferior ao gênero oposto, afinal, adianta esbanjar neurônios sem usá-los? Não!
O que é necessário é a alforria do grilhão que prende o ser a uma dimensão alienada e excludente. Todos são criaturas iguais. Que as mulheres sejam mulheres!

Autoria de Breno Callegari Freitas
Corrigido e revisado por
Josiane Callegari Freitas

domingo, 4 de março de 2012

Ultimas palavras (Conto)

Menina do Sorriso,
Ainda leio aqueles poemas de amor que escrevi sem saber o que fazia. Aqueles versinhos que fazia para te ver sorrir. Ainda escrevo poesias com sua foto ao lado da escrivaninha, confesso que não a olho muito, mas não consegui abdicar desse antigo ritual. Ah, camponesa dos cabelos dourados me deixaste desamparado indo embora sem deixar recado, e voltando ao seu interior pacato. Não te culpo minha bela, algumas lagartas não nasceram para voar. O erro foi meu em embriagar-te com meus versos e trazer-te ao meu casulo.
Nossa cama ainda está milimetricamente bagunçada, acho que naquela configuração seu corpo aparenta ainda estar conservado ali, como se estivesse de volta... volta pra casa, pra minha casa. Não sei se acreditará, mas o casulo parece um templo gigantesco feito para homenagear um deus de extrema grandeza e valor. Sabe que nunca gostei da arquitetura dessas igrejas antigas, dentro dela me sinto sozinho. Sozinho como uma lagarta dentro de um casulo construído para duas lagartas.
Em fim, não quero parecer desesperado, o que desejo realmente é poder contemplar a lua refletindo seu multidimensional brilho. E quando cansar de admirar suas formas embelezando a natureza gostaria de tocar-te como quem sente o macio da neve no cume de uma montanha que demorara dias para vencer a escalada. Tocar-te, fitar-te com os olhos e beijar-te, como um beija-flor sugando o néctar da primeira flor da estação. Por favor, volte enquanto ainda sua foto revitaliza o ambiente e eu ainda consiga escrever, pois caso contrário eu e tudo que eu tenho estamos fadados a morte.
 
OBS: Estou dormindo no sofá do casulo para conservar o estado da nossa cama. Não demore, pois estou morrendo de dor nas costas.

Herança Materna

Oitavo andar... Edifício mal cuidado.
Atrás da porta 823 repousa
O que de melhor para mim deixaram.
Ao abrir a porta
O breu silente assombrou meu equilíbrio.
Janelas fechadas com tábuas
Alastrava o que naquele lugar havia de sinistro.
No tapetinho de entrada sandálias...
Móveis cobertos por um pano branco
Acresciam um semblante de assassinato.
A minha cor facial no ímpeto do momento se modificou
Em um insight me toquei que minha herança não continha valor.
Decepção, dor, tristeza... um mix de emoção
Ela se foi sem lembrar de mim.
No momento cresceu no peito a sensação
De que valor nenhum possuí.
Erguendo a cabeça para me despedir da minha mediocridade
Reconheci, sobre a mesa, um livro velho e rasgado.
Eram sonetos de Florbela.
Logo percebi as intenções “dela”
Em deixar de herança, poesia.
E  são nesses versos se concretizam
O que minha mãe de melhor deixou
A forma de expressar em arte o amor.

Fome

Sentei a mesa.
O cheiro da comida me dava asco.
Estava acompanhado.
Na outra cadeira sentava-se a fome.
A fome me consumia.
Ela me comia...
E eu não queria a comida.
Olhei ao meu redor e haviam humanos gordos.
Gordos de ego.
Eu odeio o sabor do ego!
Pensei nos talheres,
Nas mesas, cadeiras,
Lâmpadas...
Mas eles não me excitavam.
A morte já tinha me devorado da cintura para baixo.
Nada nesse mundo me fazia feliz
A não ser minha tenra pele.
E eu a comi.
Como quem come por amor,
Como quem saboreia uma flor
COUVE-FLOR.
Minha pele, meus olhos...
Faltou a mão,
Largarei a caneta
E como se faz com a melhor parte
Comerei bem devagar.
Sim, a melhor parte do meu corpo são minhas
MÃOS.

Bárbara

Bárbara

Sou capitão do exército romano.
Entreguei minha vida a Cesar.
A partir de então não temo a morte
E não perco meu tempo com tolices
Como amor e os demais sentimentos.

Contudo, percebi meus sentidos esmiuçar-se
Quando um deslize cometi.

Era manhã dominical.
Eu liderando uma tropa de guerreiros,
Voltávamos para nossa pátria pela floresta.
Nesta mesma manhã
Havíamos nos consagrado vitoriosos
Em um duelo contra bárbaros vizinhos de fronteira.
Havíamos dizimado seu exército e seu povoado.
A maior parte dos soldados estavam feridos.
Na floresta os raios de sol transpassavam
As frestas não preenchidas pelas folhas que estavam na copa das arvores,
Acrescentando beleza as flores que amarelas
Estavam devido à estação.
Um fecho luminoso apontava um local no solo encoberto por folhas,
Fixei meu olhar naquele lugar.
Quando cheguei perto do dito local,
Uma mulher saltou de debaixo das folhas
Em direção ao meu cavalo
Que assustado empinou me derrubando no chão.
Habilmente imobilizei a moça
Que instantaneamente imobilizou meu coração.
Eu a levei como prisioneira,
Mas confesso que não consegui retirar meus olhos daqueles olhos.
Sua pele era alva, seus cabelos negros, altura mediana
E olhos que me diziam palavras hostis.
A noite caiu, levantamos acampamento.
Meus olhos fechados não evitavam que meus
Pensamentos girassem como uma criança hiperativa.
Ouvi um barulho do impacto entre metais,
Saí imediatamente da tenda para conferir...
Foi quando me deparei com a bela bárbara
Tentando livrar-se das correntes.
Meus olhos a fitaram por eternos minutos,
Meus pés começaram a mover-se.
Enquanto me aproximava,
A prisioneira proferia palavras em tons ríspidos
E em um dialeto que eu não compreendia...
Mesmo se compreendesse não causaria efeitos,
Pois estava me movendo guiado por seus lábios.
Minhas mãos seguraram firmemente em seus braços...
Meus lábios lentamente se aproximaram dos seus lábios...
Inevitavelmente a beijei.
Suas mãos acorrentadas tiraram minha couraça
E seu fôlego indiscreto ascendeu à centelha de desejo
Que guardado estava há anos.
Senti suas mãos deslizando por minha cintura
Discretamente como sombra de fumaça,
Pegou a chave que estava no meu coldre
E gatunamente se destrancou.
Senti que ela prolongou o beijo,
Mas de repente ela virou-se e fugiu.
Eu passei o restante da noite ali sentado
Aproveitando a faísca sentimental
Que ainda queimava em meu peito.
Contudo, o sol veio anunciando a manhã
E como um bom servo, vesti a couraça...
Despi-me dos sentimentos que ainda fumegavam
E segui meu rumo com minha tropa! 

O grisalho da face

Em uma das casuais visitas de amigos ouvi em um comentário, que soou preocupante, que meu rosto estava pálido. Eles não entendem que ao envelhecer todos adquirimos um sabor fúnebre de grisalho ao rosto, talvez não seja essa a dinâmica da vida, e sim da morte.
A cor da morte é o cinza. É vantajoso morrer em cinzas, pois as outras mortes não possuem beleza. Contudo, o fogo que abraça a matéria consegue influenciá-la com seu apimentado calor a entrar em uma lenta mutação... metamorfose de corpo, de cor, cheiro e de sabor. E quando o silente fogo envolve sensualmente a dita mutação suas cores variam entre o branco e extremo preto. Quando tudo for roubado daquele corpo, ele perde sua vida bem no ápice do êxtase. E assim o sedutor se apaga completando sua linda dança lúdica desaparecendo. A cor da morte é o cinza. 

Abastecendo a mochila com “nós”

Quando eu era criança, me encantava o ritual anual da compra das mochilas. Eu tinha apenas 9 anos quando em uma tarde quente minha vida mudou.

(Mãe) Olá querida, como passou na escola?
(Criança) Foi ruim mamãe!
(Mãe) Ruim? Por que minha filha?
(Criança) Pois conheci alguém triste.
(Mãe) Triste como minha filha?
(Criança) Alguém que não teve deus pra ajudar.
 (Mãe) Conte-me direito menina.

(Criança)
A tarde era de intenso calor
Eu ainda embriagada pelo sono
Lanchava no recreio.
Foi quando percebi alguém se aproximando
Era uma garotinha de idade semelhante a minha,
Que vestia uma bermuda jeans de elástico
E jaqueta pintadinha.
Além de vestir-se mal, parecia de fome um poço
Maquiado por um sorriso morno e não intenso.
Com a voz tremula pediu o resto do cereal que estava sobre a mesa
E num repente intuitivo de criança contemplei-a com os grãos.
A partir daí instaurou-se a conversa
Que durou o recreio que foi do tamanho de um verão.
Ela me disse que comida para ela era um problema
E me contara que estava um dia sem comer.
Eu então entrei em um dilema:
Existe a possibilidade de não comer por um dia e sobreviver?
Algo me dizia que era verdade,
E que daquela menina emanava sinceridade.
Depois daqueles momentos compartilhados
Voltei para casa com o coração contrariado,
Pois não entendo
Como deus lembra dos ricos, e esnoba de alguns “indignos”.

No outro dia presenteei a pequenina com minha mochila nova. E nunca mais desejei algo além do que eu realmente precisava, pois as vaidades são um banquete para quem tem fome de si. Eu prefiro degustar o amarelo sabor do nós!

Vítima