domingo, 4 de março de 2012

Ultimas palavras (Conto)

Menina do Sorriso,
Ainda leio aqueles poemas de amor que escrevi sem saber o que fazia. Aqueles versinhos que fazia para te ver sorrir. Ainda escrevo poesias com sua foto ao lado da escrivaninha, confesso que não a olho muito, mas não consegui abdicar desse antigo ritual. Ah, camponesa dos cabelos dourados me deixaste desamparado indo embora sem deixar recado, e voltando ao seu interior pacato. Não te culpo minha bela, algumas lagartas não nasceram para voar. O erro foi meu em embriagar-te com meus versos e trazer-te ao meu casulo.
Nossa cama ainda está milimetricamente bagunçada, acho que naquela configuração seu corpo aparenta ainda estar conservado ali, como se estivesse de volta... volta pra casa, pra minha casa. Não sei se acreditará, mas o casulo parece um templo gigantesco feito para homenagear um deus de extrema grandeza e valor. Sabe que nunca gostei da arquitetura dessas igrejas antigas, dentro dela me sinto sozinho. Sozinho como uma lagarta dentro de um casulo construído para duas lagartas.
Em fim, não quero parecer desesperado, o que desejo realmente é poder contemplar a lua refletindo seu multidimensional brilho. E quando cansar de admirar suas formas embelezando a natureza gostaria de tocar-te como quem sente o macio da neve no cume de uma montanha que demorara dias para vencer a escalada. Tocar-te, fitar-te com os olhos e beijar-te, como um beija-flor sugando o néctar da primeira flor da estação. Por favor, volte enquanto ainda sua foto revitaliza o ambiente e eu ainda consiga escrever, pois caso contrário eu e tudo que eu tenho estamos fadados a morte.
 
OBS: Estou dormindo no sofá do casulo para conservar o estado da nossa cama. Não demore, pois estou morrendo de dor nas costas.

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