domingo, 4 de março de 2012

Abastecendo a mochila com “nós”

Quando eu era criança, me encantava o ritual anual da compra das mochilas. Eu tinha apenas 9 anos quando em uma tarde quente minha vida mudou.

(Mãe) Olá querida, como passou na escola?
(Criança) Foi ruim mamãe!
(Mãe) Ruim? Por que minha filha?
(Criança) Pois conheci alguém triste.
(Mãe) Triste como minha filha?
(Criança) Alguém que não teve deus pra ajudar.
 (Mãe) Conte-me direito menina.

(Criança)
A tarde era de intenso calor
Eu ainda embriagada pelo sono
Lanchava no recreio.
Foi quando percebi alguém se aproximando
Era uma garotinha de idade semelhante a minha,
Que vestia uma bermuda jeans de elástico
E jaqueta pintadinha.
Além de vestir-se mal, parecia de fome um poço
Maquiado por um sorriso morno e não intenso.
Com a voz tremula pediu o resto do cereal que estava sobre a mesa
E num repente intuitivo de criança contemplei-a com os grãos.
A partir daí instaurou-se a conversa
Que durou o recreio que foi do tamanho de um verão.
Ela me disse que comida para ela era um problema
E me contara que estava um dia sem comer.
Eu então entrei em um dilema:
Existe a possibilidade de não comer por um dia e sobreviver?
Algo me dizia que era verdade,
E que daquela menina emanava sinceridade.
Depois daqueles momentos compartilhados
Voltei para casa com o coração contrariado,
Pois não entendo
Como deus lembra dos ricos, e esnoba de alguns “indignos”.

No outro dia presenteei a pequenina com minha mochila nova. E nunca mais desejei algo além do que eu realmente precisava, pois as vaidades são um banquete para quem tem fome de si. Eu prefiro degustar o amarelo sabor do nós!

Nenhum comentário:

Postar um comentário