domingo, 4 de março de 2012

Herança Materna

Oitavo andar... Edifício mal cuidado.
Atrás da porta 823 repousa
O que de melhor para mim deixaram.
Ao abrir a porta
O breu silente assombrou meu equilíbrio.
Janelas fechadas com tábuas
Alastrava o que naquele lugar havia de sinistro.
No tapetinho de entrada sandálias...
Móveis cobertos por um pano branco
Acresciam um semblante de assassinato.
A minha cor facial no ímpeto do momento se modificou
Em um insight me toquei que minha herança não continha valor.
Decepção, dor, tristeza... um mix de emoção
Ela se foi sem lembrar de mim.
No momento cresceu no peito a sensação
De que valor nenhum possuí.
Erguendo a cabeça para me despedir da minha mediocridade
Reconheci, sobre a mesa, um livro velho e rasgado.
Eram sonetos de Florbela.
Logo percebi as intenções “dela”
Em deixar de herança, poesia.
E  são nesses versos se concretizam
O que minha mãe de melhor deixou
A forma de expressar em arte o amor.

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